segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Apelo feminino

Desde o século XVIII, a mulher vem lutando por um espaço mais abrangente na sociedade, um espaço capaz de dar à ela os mesmos direitos dos homens, capaz de quebrar paradigmas e solidificar a imagem de mulher dona de si, dona do mundo.
Foi Olympe de Gouges, precursora do movimento feminista, que em 1791 disse a frase: ''Se a mulher tem o direito de subir no cadafalso, deve ter também o direito de subir numa tribuna." Mais tarde, sua afirmação passou a ser o slogan da emancipação feminista, arrebatando aliadas por toda parte e transcedendo os séculos.
Mas foi somente em 1920, depois de muitas lutas, conflitos ideológicos com o Estado e a sociedade patriarcal da época, que as mulheres estadunidenses adquiriram o direito do voto, disseminando assim esse novo modelo de sociabilidade: mais igualitária, mais justa e coerente por aonde quer que a brisa feminina do vento passasse.
Pois bem, Bravo mulheres! Conseguimos!
Já podemos votar como os homens, trabalhar como os homens, ter salários como os homens,ser donas do nosso corpo como os homens são do corpo deles.
Já podemos ser como os homens.
E aqui, a confusão começa.
Assustadoramente, as mulheres estão ''copiando'' os homens até nos mais terríveis e repugnantes costumes masculinos. Através do argumento e do pensamento de que '' temos direitos iguais", o sexo feminino tem deixado toda a sua graça e beleza se esvaírem pelas frases repletas de palavrões e indecências , pelas altas doses alcoólicas que tomam nas baladas ( levando-as à total perda de sentidos e tornando-as mais vulneráveis ao sexo masculino),pelas traições cada vez mais constantes e notórias sem qualquer espécie de condenação por isso.
O mais intrigante é que, nós mulheres, estamos nos comportando hoje com as mesmas atitudes que condenávamos nos homens alguns anos atrás.
Para algumas, aquelas que se valem do princípio de Talião ( olho por olho, dente por dente), estamos dando o troco, pagando na mesma moeda, revidando, promovendo a nossa vingança por todas as vezes que aceitamos sem poder questionar tais indecorosas ações masculinas.
Mas para mim, é mais do que um conflito dualista de sexos opostos, é uma questão moral.
Nessa briga infantil de ''eu também posso'' a mulher esqueceu de ser mulher, esqueceu que a aquisição de todos esses direitos outrora inexistentes, não a colocaria na mesma posição de capacidade do homem.Ela,com toda a sua sensibilidade e flexibilidade , estaria acima, bem acima do seu adversário.
E o homem sabe da sua inferioridade diante de uma verdadeira mulher, mulher cujo olhar provoca sem agredir, cujas palavras mais difíceis de expressar soam naturais, cuja sensualidade está implícita na elegância dos seus gestos.
O homem é tão consciente da sua condição de subalternidade à mulher, que adiou o quanto pôde a liberação dos mesmos direitos sociais que ele detinha, pois ele sabia que depois da emancipação dos direitos femininos, nada o faria melhor do que ela.
Logo, digo às mulheres vingativas, que ainda não superaram os comportamentos inescrupulosos do sexo masculino, que vinguem-se sim.Para tanto, mostrem que não precisam do álcool, ou do cigarro, nem de roupas vulgares e tampouco de outros homens para serem as mulheres que gostariam ser.
Sim, mulheres.
Porque somos capazes de tudo, e os homens do que resta.
Tainá Lima.

sábado, 12 de julho de 2008

Tirando a poeira

O comentário que segue é motivado pelo livro de uma senhora chamada Rosamunde Pilcher, culpada pelas olheiras que me perseguiram por algumas semanas, devido às madrugadas que fiquei acordada me deliciando com o seu maravilhoso talento de escrever.

Li Os catadores de conchas a primeira vez e fiquei fascinada como palavras tão simples podem expressar tanto.

Aqui vai a prova do que digo :

Se alguém que respeitamos acha que somos capazes de fazer alguma coisa, em geral é verdade.

A ganância e a cobiça têm um poder destrutivo tão devastador quanto a inveja, separando pais e filhos, irmãos e irmãs, em caráter irrevogável.



Hoje, por motivos nostálgicos talvez, decidi reabrí-lo.

Fui à prateleira de livros, e ele estava lá, com sua capa cor de areia e o título em letras finas e elegantes, representando sem saber, o melhor dos romances que tenho.

Comecei a ler a introdução, reescrita pela autora em 1997 - quando o livro comemorava 10 anos de lançamento e sucesso no mercado mundial - e a sensação de uma nova interpretação para as palavras ali tão bem escritas, brotou em mim.

Fascinante isto:

Depois de quase três anos, o prazer de lê-lo é o mesmo, mas o sabor é outro.

Acho que as palavras de Heráclito, poderiam se encaixar aqui :

Ninguém passa pelo mesmo rio duas vezes.

Deve ser assim com os livros também; a cada nova leitura, se transforma em um novo livro.

Não é à toa que Os catadores de conchas, é o que é.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

De vários tamanhos

"Quem não traz na cabeça um grãozinho de ambição?"

( Jean de La Fontaine )

Digamos que esse grãozinho, seja uma semente de abacate em mim.




:D

sábado, 19 de abril de 2008

Saudade

Saudade é solidão acompanhada.
É quando o amor ainda não foi embora,
Mas a amada já.
Saudade é amar o passado,
Que ainda não passou.
É recusar um presente que nos machuca.
É não ver o futuro que nos convida.
Saudade é sentir que ainda existe,
O que não existe mais.
Saudade é o inferno dos que perderam.
É a dor dos que ficaram para trás.
É o gosto de morte na boca dos que continuam.
Só uma pessoa do mundo deseja sentir saudade:
Aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
Não ter por quem sentir saudades,
Passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Pablo Neruda.
















Têm coisas que só de ler, nos dão aquele ''nó'' na garganta.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Falsos elogios

Acho que foi Freud quem disse que só o elogio é capaz de desarmar uma pessoa.



Talvez não soubesse ele que a frase que estava proferindo era a síntese bruta de uma açâo que quase nunca executamos, e que porém adoramos receber: o elogio.



A veracidade da afirmação freudiana muitas vezes é confundida, com aquilo que vulgarmente se conhece como ''puxa - saquismo'', seja este, numa simples analogia , o óleo lubricante da engrenagem dos que buscam quaisquer meios para justificar seus fins, ou por assim dizer, os ''interesseiros' - aqueles que atribuem valor às pessoas pelo título que carregam consigo ou pelos benefícios que seus pseudos-amigos podem proporcionar-lhes.



É de fato deplorável, quando se constata que uma ação que pode fomentar progressos pelo sentimento de reconhecimento que transmite, é na maioria das vezes mal vista pelos que fazem da insinceridade o motor de sua vida.



Que o elogio, desarma um inimigo, é verdade!

O problema está no seu uso frequente, que tem feito cair nos ralos do esquecimento o verdadeiro significado deste ato que todos, por mais autosufientes que sejam, gostam de ouvir.



Pior mesmo do que falsos elogios, só a crise de dengue no Rio, o caso de crianças como o menino João Hélio, e a menina Isabella,que assim como tantos outros trágicos acontecimentos da história do Brasil, afetam cruelmente a sociedade e têm em retribuição o descaso do governo seguido pelo esquecimento da maioria, pouquíssimo tempo depois.

Uma lástima!

domingo, 13 de abril de 2008

Origem feminina








Existem várias lendas sobre a origem da Mulher.

Uma diz que Deus pôs o primeiro homem a dormir, inaugurando assim a anestesia geral, tirou uma de suas costelas e com ela fez a primeira mulher.E que a primeira provação de Eva foi cuidar de Adão e agüentar o seu mau humor, enquanto ele convalescia da operação.

Uma variante desta lenda diz que Deus, com seu prazo para a Criação estourado, fez o homem às pressas, pensando “Depois eu melhoro”, e mais tarde, com tempo, fez um homem mais bem-acabado, que chamou Mulher, que é “melhor” em aramaico.

Outra lenda diz que Deus fez a mulher primeiro, e caprichou nas suas formas, e aparou aqui e tirou dali, e com o que sobrou fez o homem só para não jogar barro fora.Zeus teria arrancado a mulher de sua própria cabeça.

Alguns povos nórdicos cultivam o mito da Grande Ursa Olga, origem de todas as mulheres do mundo, o que explica o fato das mulheres se enrolarem periodicamente em pêlos de animais, cedendo a um incontrolável impulso atávico, nem que seja só para experimentar, na loja, e depois quase desmaiar com o preço.

Em certas tribos nômades do Meio Oriente ainda se acredita que a mulher foi, originariamente, um camelo, que na ânsia de servir seu mestre de todas as maneiras foi se transformando até adquirir sua forma atual.

No Extremo Oriente existe a lenda de que as mulheres caem do céu, já de kimono.E em certas partes do Ocidente persiste a crença de que mulher se compra através dos classificados, podendo-se escolher idade, cor da pele e tipo de massagem.

Todas estas lendas, claro, têm pouco a ver com a verdade científica. Hoje se sabe que o Homem é o produto de um processo evolutivo que começou com a primeira ameba a sair do mar primevo, e é o descendente direto de uma linha específica de primatas, tendo passado por várias fases até atingir o seu estágio atual e aí encontrar a Mulher, que ninguém ainda sabe de onde veio.

É certamente ridículo pensar que as mulheres também descendem de macacos. A minha mãe, não!

Uma das teses mais aceitáveis sobre o papel da mulher na evolução do homem é a de que o primeiro encontro entre os dois se deu no período paleolítico, quando um homo-sapiens mas não muito, chamado, possivelmente, Ugh, saiu para caçar e avistou, sentado numa pedra, penteando os cabelos, um ser que lhe provocou o seguinte pensamento, em linguagem de hoje:”Isso é que é mulher e não aquilo que tenho na caverna”.

Ugh aproximou-se da mulher e, naquele seu jeitão, deu a entender que queria procriar com ela.”Agh maakgrom grom”, ou coisa parecida. A mulher olhou-o de cima a baixo e desatou a rir.

É preciso lembrar que Ugh, embora fosse até bem apessoado pelos padrões da época, era pouco mais do que um animal aos olhos da mulher. Tinha a testa estreita e as mandíbulas pronunciadas e usava gordura de mamute nos cabelos.

A mulher disse alguma coisa como “Você não se enxerga, não?” e afastou-se, enojada, deixando Ugh desolado. Antes dela desaparecer por completo, Ugh ainda gritou: “Espera uns 10 mil anos pra você ver!”, e de volta à caverna exortou seus companheiros a aprimorarem o processo evolutivo.

Desde então, o objetivo da evolução do homem foi o de proporcionar um par à altura para a mulher, para que, vendo o casal, ninguém dissesse que ela só saía com ele pelo dinheiro, ou para espantar assaltantes.

Se não fosse por aquele encontro fortuito em alguma planície do mundo primitivo, o homem ainda seria o mesmo troglodita desleixado e sem ambição, interessado apenas em caçar e catar seus piolhos, e um fracasso social.

Mas de onde veio a primeira mulher, já que podemos descartar tanto a evolução quanto as fantasias religiosas e mitológicas sobre a criação?Inclino-me para a tese da origem extraterrena.

A mulher viria (isto é pura especulação, claro) de outro planeta.Venho observando-as durante anos - inclusive casei com uma, para poder estudá-las mais de perto - e julgo ter colecionado provas irrefutáveis de que elas não são deste mundo.

Observei que elas não têm os mesmos instintos que nós, e volta e meia são surpreendidas em devaneio, como que captando ordens de outra galáxia, embora disfarcem e digam que só estavam pensando no jantar.

Têm uma lógica completamente diferente da nossa. Ultimamente têm tentado dissimular sua peculiaridade, assumindo atitudes masculinas e fazendo coisas - como dirigir grandes empresas e xingar a mãe do motorista ao lado - impensáveis há alguns anos, o que só aumenta a suspeita de que se trata de uma estratégia para camuflar nossas diferenças, que estavam começando a dar na vista.

Quando comentamos o fato, nos acusam de ser machistas, presos a preconceitos e incapazes de reconhecer seus direitos, ou então roçam a nossa nuca com o nariz, dizendo coisas como “ioink, ioink” que nos deixam arrepiados e sem argumentos.

Claramente combinaram isto. Estão sempre combinando maneiras novas de impedir que se descubra que são alienígenas e têm desígnios próprios para a nossa terra.É o que fazem, quando vão, todas juntas, ao banheiro, sabendo que não podemos ir atrás para ouvir.

Muitas vezes, mesmo na nossa presença, falam uma linguagem incompreensível que só elas entendem, obviamente um código para transmitir instruções do Planeta Mãe.E têm seus golpes baixos.

Seus truques covardes. Seus olhos laser, claros ou profundamente escuros, suas bocas.Meu Deus, algumas até sardas no nariz. Seus seios, aqueles mísseis inteligentes. Aquela curva suave da coxa, quando está chegando no quadril, e a Convenção de Genebra não vê isso!

E as armas químicas - perfumes, loções, cremes. São de uma civilização superior, o que podem nossos tacapes contra os seus exércitos de encantos?Breve dominarão o mundo. Breve saberemos o que elas querem.

Se depois de sair este artigo, eu for encontrado morto com sinais de ter sido carinhosamente asfixiado, como um sorriso, minha tese está certa. Se nada me acontecer, sinal de que a tese está certa, mas elas não temem mais o desmascaramento.

O que elas querem, afinal?Se a mulher realmente veio ao mundo para inspirar o homem a melhorar e ser digno dela, pode ter chegado à conclusão de que falhou, que este velho guerreiro nunca tomará jeito.

Continuaremos a ser mulheres com defeito, uma experiência menor num planeta inferior. O que sugere a possibilidade de que, assim como veio, a mulher está pronta a partir, desiludida conosco.

E se for isso que elas conspiram nos banheiros? A retirada? Seríamos abandonados à nossa própria estupidez. Elas levariam as suas filhas e nos deixariam com caras de Ugh.Posso ver o fim da nossa espécie.

Nossos melhores cientistas abandonando tudo e se dedicando a intermináveis testes com a costela, depois de desistir da mulher sintética. Tentando recriar a mágica da criação.

Uma mulher, qualquer mulher, de qualquer jeito! Prometemos que desta vez não as decepcionaremos! Uma mulher!

Como é que se faz uma mulher?









Luís Fernando Veríssimo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sábado, 22 de março de 2008

O sonho

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chancede fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecemem seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta,
mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.







Clarice Lispector

sexta-feira, 21 de março de 2008

Cada ser, cada reação

"Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela,mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol."































Pablo Picasso

sábado, 1 de março de 2008

ENSINAMENTO

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado''
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Adélia Prado, me fazendo ratificar a opnião de que o amor é o mais importante da vida.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

The woman

Hand in the chin, she stops, musing.

Greek beauty, dressed with diligence, tall, thin. Wavy hair, wore in a careless ponytail.
As I walk by in the morning, I see her in the garden, at the entrance of the majestic house. Her looks call my attention. I almost go back to see her once more.

I keep on going my way, though…(I can’t be late!)

Wise, she ponders and meditates.

My memory captures the rosé harmony: skin and clothes. My brain registers the still, unexpected, in luminous winter morning.

The cars go fast by Cosme Velho neighborhood... Impatient, at the red sign, they stop even they dislike it.

Not even this morning frisson bothers her, imperturbable audience that she is.

Finally, I arrive at my English course. During the class, I can’t forget about the sight of that woman. Her classical image had impregnated me. I catch myself wandering who would have made her magnificent outfit...

And the fabric, muslin? Or maybe some sort of satin, for the sensual effect of the draperies, protecting her body from the curious passersby as if she was a vestal...

On my way back, I find her still in the same position. Nothing disturbs her: impassible, she keeps musing, with a lost look in her eyes… (what/whom would she think about???)

I stop, thrilled, one more time, with the sight of that beautiful marble statue, in the garden of Leone’s auction house, waiting for a new owner...

Maria Angélica Monnerat Alves

For me, just one word : Superb!

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma.

Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti,
sim, não deveríamos.

Luxo

Certa vez eu li em um livro que Luxo é poder compartilhar os momentos que você aprecia com quem você gosta- em qualquer lugar.
Outra vez li uma frase atribuída à mademoiselle Chanel que dizia: O luxo tem que ser confortável ou não é luxo.
E então pensei que os dois conceitos do que é luxo se integram.
Porque estar com quem você gosta no lugar que você quer é um luxo, mas sobretudo sinônimo daquilo que é conforto.
Esse é o meu luxo.
Logo é fato que cada um tem o seu, só não se pode esquecer é que "Luxo não é o contrário de pobreza, mas o oposto do banal." Mais uma vez, Chanel.

Gilles Lipovetsky

Por Juvenal Savian Filho


Gilles Lipovetsky, 63, é um dos mais conhecidos pensadores atuais. Professor da Universidade de Grenoble, seu pensamento tem tido certa fecundidade não apenas no mundo acadêmico ou nos círculos filosóficos, mas também em outros universos, como o das artes, da educação, da psicologia, da política...e...do luxo. O interesse pelo mundo do luxo e da moda tem sido a prova de que inúmeros e inusitados elementos da experiência humana fornecem a Gilles Lipovetsky ocasião para aprofundar o sentido dessa experiência. Nesse trabalho de aprofundamento, não há desprezo pelo cotidiano nem pelo que parece fútil ou frívolo. Ao contrário, procurando redefinir o individualismo, Gilles Lipovetsky acrescenta novas misturas à palheta utilizada pelas filosofias atuais para pintar o indivíduo, como se pode perceber pela entrevista bem humorada que ele gentil e muito simpaticamente concedeu por telefone à CULT.

CULT - Como o senhor chegou ao universo do luxo como domínio de pesquisa filosófica? Poderia nos contar um pouco do trajeto de sua formação?

GILLES LIPOVETSKY - Tenho uma formação de filósofo; estudei filosofia na Sorbonne e depois ensinei muitos anos a filosofia mais tradicional, quer dizer, a história da filosofia. Autores como Platão, Kant, Hegel etc. Meus interesses voltavam-se, sobretudo, para a compreensão da história e da vida social, ligados, provavelmente, à minha formação marxista. Meus interesses se fixavam na observação do mundo e suas transformações. Distanciei-me, porém, do marxismo, sobretudo no que dizia respeito à noção de alienação, pois toda cultura de massas era vista como algo alienado. Interessei-me, então, pelas questões que geralmente são desprezadas pelos filósofos. Platão, por exemplo, não gosta da caverna. Para ele, é necessário sair para contemplar a beleza das idéias eternas, inteligíveis. Ao contrário, eu me interesso mais pela caverna; pretendo iluminá-la, sem precisar sair dela. Foi assim que me interessei pelos objetos mais desprezíveis para a maioria dos filósofos, como a publicidade, o lazer, o consumo, a moda, a maquiagem. O luxo, então, foi uma continuidade de tudo isso. Mas não falo apenas segundo um interesse pessoal, porque a moda ou o luxo não me interessam senão ao espírito; parece-me que tudo isso exprime muitas coisas de nossa época, da cultura, da psicologia e da natureza de nossa sociedade.

CULT - Mas, ao mesmo tempo, o senhor não ficou desgostoso com esse universo...

G.L. - Bem... Desgostoso não...

CULT - É que o senhor vinha de uma formação marxista, e muitos marxistas são radicais com respeito à condenação desse gênero de interesse...

G.L. - Eles têm um reflexo moral inteiramente justo, porque é verdade que há algo de escandaloso no luxo. Eu li, por exemplo, recentemente, que está retornando, na moda masculina, a utilização da pele de crocodilo. Em algumas marcas, uma jaqueta masculina chega a custar 80 mil dólares. Quando vemos algo assim, é difícil - como você diz - não ficar desgostoso. Porém, o que me interessa mais é o luxo acessível, não um luxo Rolls-Royce...Quis, de início, saber por que a indústria do luxo, no momento da globalização, mudou seus rumos. Hoje, mais da metade dos europeus compra ao menos uma marca de luxo por ano; tem-se tornado um fenômeno democrático. E não se trata de luxo que escandaliza. Comprar um vidro de perfume, um batom, uma bolsa de mil ou 2 mil dólares não é algo escandaloso. Talvez seja ridículo, mas não escandaloso. Esse é o luxo que me interessa, assim como também tenho interesse pelas técnicas de marketing, os novos modelos de lojas, pois isso toca a todos nós; trata-se de um fenômeno estético de nosso mundo. Se vemos as boutiques, nas cidades, não podemos negar que são belas. Isso é diferente de uma Daslu, por exemplo. Daslu é algo mais escandaloso...Pode-se chegar lá de helicóptero...Há favelas em volta...É chocante. Daslu é quase uma provocação. Mas, nas cidades, quando as marcas de luxo constroem grandes prédios, fazem belas lojas etc., as pessoas entram, vão ver, pois os espaços são abertos a todo mundo. Trata-se de um luxo acessível, relativamente democrático. O outro luxo, voltado para milionários, não me interessa. Esse é um universo que eu não conheço. Numa palavra, o que me interessa é o fenômeno da democratização do luxo.

CULT - Mas seria desejável tornar o luxo mais democrático? O que o luxo diz sobre a natureza humana?

G.L. - Já Shakespeare notava que, se acabarmos com os objetos de luxo, não teremos nada além de animalidade. O que o luxo diz é que o homem não se contenta apenas com a satisfação de suas necessidades naturais. Há, acima de tudo, uma busca de excesso, de ultrapassamento da simples naturalidade. Além disso, o luxo não é simplesmente uma demonstração de riqueza. Pode o ser, mas esse não parece o seu sentido. Há uma busca de beleza no luxo; uma busca de sensualidade. Há um gosto por tudo o que é refinado. Isso exprime, ao mesmo tempo, a competição entre os homens - é por isso que se trata de algo universal, pois os homens, desde sempre, rivalizaram por riquezas. Haveria, ainda, uma questão muito delicada: a arte faz parte do luxo ou não? Penso que sim. Costumamos deixar isso de lado, porque a arte tem uma dimensão espiritual, com referências ao sagrado, à Beleza, mas, se consideramos o preço de uma obra de arte, vemos que estamos muito próximos de um objeto de luxo. Essa é a razão pela qual as pessoas mais ricas, hoje, estão se tornando colecionadoras de arte contemporânea. Creio que o luxo testemunha o fato de o homem, como dizia Bataille, ser negatividade: ele não se satisfaz com o que tem, mas quer sempre mais.

CULT - Mas um objeto de luxo é necessariamente belo? Um artista não pode desejar o feio?

G.L. - Se adotarmos um olhar antropológico sobre o luxo, veremos que ele não esteve sempre associado a coisas belas. Em algumas sociedades, alguns animais tinham valor especial, como os cães para os esquimós. Isso aparece como luxo, mas não se trata necessariamente de beleza. É verdade que, a partir de um certo momento, o luxo e a beleza foram ligados, mas hoje ainda há produtos de luxo que não são necessariamente belos. Por exemplo, quando viajamos em primeira classe de avião: a decoração é a mesma que a da segunda classe ou da classe econômica. O que faz, então, o produto de luxo não é necessariamente a beleza, mas o bem-estar. Para dar uma palavrinha sobre a Beleza, eu diria que, atualmente, ela se "democratizou": a maior parte das pessoas vê mais coisas belas hoje em dia (na televisão, nas revistas, na publicidade etc.); nós consumimos beleza non stop. Vemos a beleza por todos os lados; certos produtos são acessíveis quase a todo mundo, como, por exemplo, os cosméticos. Talvez não as grandes marcas, mas já faz quase um século que os cosméticos se tornaram acessíveis a praticamente todas as pessoas das sociedades desenvolvidas. Nesse contexto, há novos mercados de luxo à procura de algo que está além da simples beleza. Isso remete muito mais à sensação do que à beleza...

Juvenal Savian Filho é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP/EPM - Campus de Guarulhos

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humanos humanos humanos ser
nós humanos humanos nós seres

humanos humanos nós humanos seres humanos

humanos nós humanos humanos humanos

ser seres seres
humanos humanos humanos nós humanos

E porque tão complicados ?




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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Superinteressante informa

Esta semana comecei informada - e por prazer, vale ressaltar.

A reportagem de Capa da revista Superinteressante ( que de fato faz juízo ao nome ) já era por si só atraente: PERSONALIDADE, O QUE FAZ DE VOCÊ ASSIM?

Não esperei o momento ou sequer o local mais apropriado para dar inicío àquilo que eu costumo chamar de boa leitura (porque a vida é uma só queridos, e não sinto a mais ínfima vontade que seja de "perder tempo", - Come on baby, estou nos primórdios dos meus 17 anos de vida! ;)

E muito boa por sinal.Ratifiquei e retifiquei conceitos sobre a influência que a genética, pais e fatalmente os amigos têm sobre a formação pessoal de cada ser humano - queiramos ou não.

Primeiro: os genes

Ratifico o que sempre ouvi minha mãe dizer : A genética não influencia tanto. Não é a genética que vai fazer de nós seres com ou sem escrúpulos. Se o pai é bandido e bate na esposa, e o filho quando cresce também se torna tão mau-caráter quanto o pai, a culpa não é basicamente, totalmente, exclusiva da genética.E sim do meio. Ora, o que você queria? o filho , por natureza, se espelha no seu criador. Essa é a mais provável das explicações. Mas e quanto aos filhos que são exatamente o oposto dos pais? Bem, eles também usam os pais como "espelho" mas dessa vez daquilo que não desejam ser. Assim, quando o mesmo filho de um pai que é bandido e bate na esposa se torna um médico bem sucedido, que zela pelo bem-estar dos seus pacientes, a genética cai por terra, e entra aqui a regra de que "cada caso é um caso". É o mesmo quando pais que deram todo o suporte educacional necessário para a edificação de um bom cidadão e na verdade criam mais um dos muitos nomes do crime. Como explicar, se não havia antecedentes na família? Certamente, a resposta não está na genética.

Segundo: os pais

De acordo com as pesquisas do livro Freaknomics, realizada em 1991 com 20.000 crianças de 5ª série, cujo objetivo era relacionar o desempenho escolar da criança com o perfil dos pais, descobriu - se que boas notas na escola não se relaciona com o que os pais fazem - se mandam os filhos ler ou lêem para eles antes de dormir - mas sim com o que os pais são: se lêem para si próprios, se são bem instruídos. É meus amigos, como a frase propaganda da Livraria Cultura em SP: Ler pra ser.

Terceiro: os amigos

Eles são os que mais influenciam na formação de um ser. Segundo a Superinteressante " No livro Diga - me com quem anda... da psicóloga americana Judith Harris as relações horizontais ( existe vertical?!) dos 6 aos 16 anos são o grande definidor da personalidade adulta." Pra mim, só mais uma prova de que o homem é produto do meio.

E assim entre a nature X nurture, eu escolho a última.


Tainá Lima
;D

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Simultaneidade

- Eu amo o mundo!
Eu detesto o mundo!
Eu creio em Deus!
Deus é um absurdo!
Eu vou me matar!
Eu quero viver!

- Você é louco?

- Não, sou poeta.

Mário Quintana....

I love it!

sábado, 29 de dezembro de 2007

Conclusões de Aninha

Estavam ali parados.
Marido e mulher. Esperavam o carro.
E foi que veio aquela da roça tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho, e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu.
Abriu a carteira tirou uma cédula, entregou sem palavra.
A mulher ouviu.
Perguntou, indagou, especulou, aconselhou, se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada, o anzol,
a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.


Cora Coralina, grande poetisa...

é, talvez eu goste sim de poesia.
Mas só um pouco.
Um pouquinho assim(?!)

hahahaha

(;

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo.
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos


Não gosto muito de poesias.
Desconheço a razão.
Mas como para tudo nesta vida há exceção,
Seja essa a minha.

=)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Lixo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?



Mais uma vez, é ele.
Luis Fernando Veríssimo.
;D

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Herança Cultural

Francês.
Homossexual assumido ( e isso em fins do século XIX e início do século XX)
é considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos.
Além de diretor de cinema, foi:
dramaturdo,
cenógrafo,
ator,
escultor,
pintor,
poeta,
escritor,
e autor de uma das minhas frases preferidos:

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez!"

Amigo de Maison Chanel, este influente e eminente ser começou a escrever aos 10 anos e aos 16 já publicava poemas de sua autoria.

Um talento, (por mais redundante que pareça o adjetivo e mesmo assim acrescento-o), foi um talento Bri.lhan.te!

E é quase absurdo pensar que um homem em apenas 74 anos de existência foi capaz de ser tanta coisa.E ser com excelência. Razão mínima que o fez perpetuar perante os séculos e o tornou assim, imortal.

Sim, falo de Jean Cocteau, o mesmo autor do filme Orfeu e do livro Os cavaleiros da távola redonda.

Pouco sei sobre ele, mas o que sei é suficiente para fazer-me admirá-lo ,não como pessoa( pois por motivos óbvios não o conheci),mas como alguém que em sua existência contribuiu para o acervo cultural que possuímos hoje.Seja este bom ou ruim, é graças a esses registros que podemos conhecer um pouco mais sobre o passado de vidas não vividas por nós.


Espero que a existência de " Jeans Cocteau's" não se restrite somente ao século passado.

Think about