sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Primeiro a chuva, depois o sol

Já está escuro, o vento que entra pela janela do meu quarto traz em seu movimento leve e suave, o perfurme das folhagens lá de fora, fazendo de maneira espontânea o prenúncio da chuva que está por vir e que eu mal posso esperar.
A bem da verdade, é que depois de um dia fatigado de tanto sol, uma chuva,por mais breve que esta possa ser, é tudo o que se mais deseja, junto, é claro, com o merecido descanso que toda sexta-feira deve proporcionar, ou deveria.
Nessa atmosfera de mudança e de circunstâncias propícias para o alívio do espírito, é que encontro, em meio a um artigo sobre a crise ética no mundo contemporâneo, - tão bem escrito pelo professor Pedro Goergen,vale ressaltar - algo que, não imaginaria eu, pudesse despertar em mim um daqueles pensamentos intrigantes que só nos deixam quando levam um pouco de nós mesmos com eles, isto é, quando levam consigo a resposta sobre a questão que instantaneamente nos é apresentada, e que inevitavelmente e não menos urgentemente, tentamos resolver.
Tudo começou quando li a seguinte frase:
Agir moralmente significa agir em conformidade com as normas estabelecidas na sociedade.
Aplicando esse conceito no contexto atual, surpreendo-me indagando:
E o que acontece quando as regras exemplificadas pela sociedade são isentas de valor moral?
Nesse caso, agir moralmente seria agir imoralmente?
Sendo assim, por outro lado, o que é imoral aos olhos da sociedade, é o que os homens bons costumam chamar de verdadeira moral?
Pois bem, daí em diante, não houve mais sossego.
Uma série de perguntas se desenvolveram mentalmente, e em instantes, estava eu ali, na cadeira do meu quarto, olhando fixadamente para a tela do computador como se estivesse absorta em um mundo paralelo, quando na verdade, só estava refletindo sobre o verdadeiro, o real mundo a que estou inserida, como tantos outros.
Começou a chover. E suspeito, que é esse cheiro de terra molhada bem como a imagem das gotículas de água que escorrem pelo vidro da janela, que me ajudam a colher o melhor das minhas pertubadoras indagações, ou pelo menos o suficiente para ter uma boa noite de sono.
Sim, é verdade, a sociedade contemporânea vive uma permanente e contraditória crise de valores.
Valores humanos, outrora tão bem definidos e esclarecidos, que foram justamente os principais motivos pela unificação de um sistema social mais democrático, mais justo, capaz de preservar a dignidade de cada ser, estão agora perdidos.
Mas por quê?
Porque a vaidade humana, assim como o discurso vazio e inseguro dos prepotentes,e sobretudo o egocentrismo, arruinaram o imprescindível para o convívio em sociedade : o respeito.
Acredito que se deva fazer como a chuva: aproveitar as lágrimas de desgosto e sofrimento para limpar todo o pseudo-moralismo e desrespeito da sociedade contemporânea e finalmente, pôr fim a essa desgastante e perniciosa crise humana.
E quem sabe um dia, o sol apareça brilhante e novo, como a mudança há de ser.
Tainá Lima

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