sábado, 29 de dezembro de 2007

Conclusões de Aninha

Estavam ali parados.
Marido e mulher. Esperavam o carro.
E foi que veio aquela da roça tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho, e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu.
Abriu a carteira tirou uma cédula, entregou sem palavra.
A mulher ouviu.
Perguntou, indagou, especulou, aconselhou, se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada, o anzol,
a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.


Cora Coralina, grande poetisa...

é, talvez eu goste sim de poesia.
Mas só um pouco.
Um pouquinho assim(?!)

hahahaha

(;

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo.
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos


Não gosto muito de poesias.
Desconheço a razão.
Mas como para tudo nesta vida há exceção,
Seja essa a minha.

=)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Lixo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?



Mais uma vez, é ele.
Luis Fernando Veríssimo.
;D

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Herança Cultural

Francês.
Homossexual assumido ( e isso em fins do século XIX e início do século XX)
é considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos.
Além de diretor de cinema, foi:
dramaturdo,
cenógrafo,
ator,
escultor,
pintor,
poeta,
escritor,
e autor de uma das minhas frases preferidos:

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez!"

Amigo de Maison Chanel, este influente e eminente ser começou a escrever aos 10 anos e aos 16 já publicava poemas de sua autoria.

Um talento, (por mais redundante que pareça o adjetivo e mesmo assim acrescento-o), foi um talento Bri.lhan.te!

E é quase absurdo pensar que um homem em apenas 74 anos de existência foi capaz de ser tanta coisa.E ser com excelência. Razão mínima que o fez perpetuar perante os séculos e o tornou assim, imortal.

Sim, falo de Jean Cocteau, o mesmo autor do filme Orfeu e do livro Os cavaleiros da távola redonda.

Pouco sei sobre ele, mas o que sei é suficiente para fazer-me admirá-lo ,não como pessoa( pois por motivos óbvios não o conheci),mas como alguém que em sua existência contribuiu para o acervo cultural que possuímos hoje.Seja este bom ou ruim, é graças a esses registros que podemos conhecer um pouco mais sobre o passado de vidas não vividas por nós.


Espero que a existência de " Jeans Cocteau's" não se restrite somente ao século passado.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Presentes de Natal

As noites de Natal existem para me mostrar que os anos têm sido arrancados das folhinhas. E me lembram de que já vou carregando, no corpo, na alma, no coração, as tatuagens do tempo.


Houve o Natal dos carneirinho manso, que meu pai me deu para ser saudade hoje.

Houve o da flauta, o do velocípede, o da bicicleta.

Depois, o das obras de Júlio Verne.

Mais adiante, o da Enciclopédia e Dicionário Internacional.

Um dia, fui visitar casa amiga.

E a empregada me anunciou:— Aí está um rapaz.

Desde então, o Natal se foi transformando em pijamas, camisas, gravatas, lenços.

Noutra visita:— Aí está um moço.

Notem que, no caso, moço é mais velho que rapaz...

Meu Natal passou a faturar abotoaduras, alfinetes de gravata, carteiras de cédulas ou de níqueis, cintos e agendas.

Agora, quando visito algum amigo, as empregadas me anunciam:— Aí está um senhor.

Quando o dono da casa é cortês, ri:— Que senhor, que nada, Maria. É o Iolando. Entra velho.


O velho em tom fraterno, remoça mais a gente. Acho horrível ser senhor.

Assim, o último Natal me deixou mágoa estranha.

Porque pessoa querida, das que sempre me presentearam no nascimento do Cristo, apareceu com uma caixinha embrulhada em papel multicolor.

Todo alegria, abri o embrulho e a caixinha.

Eram uns suspensórios!...


Nestor de Holanda




Àqueles que vierem a ler esse texto, espero que tenham desfrutado de um excelente Natal, com ou sem bons presentes...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A mulher madura

O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.

De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs.

Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia.

Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos.

Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.

Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.

Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente.

Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo.

Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar.

A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia.Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.

Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.


(15.9.85)


Affonso Romano de Sant'Anna


O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 09.





Tem gente que não só escreve, encanta.

sábado, 22 de dezembro de 2007

A complicada arte de ver

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."


Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".Ver é muito complicado.


Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.


William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.


Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.


Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".


Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".


A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.


Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".


Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...



O texto acima foi extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.


Como eu gosto desse senhor chamado Rubem Alves.
Grande senhor.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Grandes coisas, grandes paixões



Nada existe de grandioso sem paixão.






(G. W. F. Hegel)



Nada mesmo.
Nada!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Porque não?!

"Ah, meu amor, não tenhas medo da carência:
ela é nosso destino maior. O amor é tão mais fatal
do que eu havia pensado, o amor é tão inerente
quanto a própria carência, e nós somos garantidos
por uma necessidade que se renovará continuamente.
O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe
da graça - que se chama paixão."
Uma vez , minha professora de Literatura confessou não gostar muito de Clarice Lispector, e foi então que por impulso de curiosidade perguntei " Porque professora?" E ela disse; " Porque ela é muito profunda, e mexe muito comigo,e não é fácil gostar dela, alguém que assim como eu ,foi criado em moldes tradicionais"
Eu entendo professora!
Se entendo...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Dias nublados

Naqueles dias amenos, em que pouco se vê os raios do Sol, certamente encobertos por nuvens que levam consigo a chuva da tarde, uma sensação de paz e equilíbrio toma conta de mim.

Um desejo abrasador de elaborar planos, metas, objetivos me sustenta com uma perspectiva de que melhorias e mudanças estão por vir, embora nesses dias nublados, a maioria dos seres esteja mais suscetível à melancolia e ao pessimismo.

O momento torna-se propício para ler um livro, e é neste livro chamado Quando Nietzsche chorou que encontro algo de minha concordância.


" (...) E disse então Lou Salomé:

- Doutor Breuer, essa hora foi curta demais. Estou ávida por mais um pouco de seu tempo. Posso caminhar com o senhor de volta ao hotel?

O convite impressionou Breuer pela ousadia, masculinidade; entretanto , dos lábios dela, soava como normal, não afetato - a forma natural como as pessoas deveriam conversar e viver . Se uma mulher aprecia a companhia de um homem, por que não lhe dar o braço e pedir para andar com ele? Contudo, que outra mulher sua conhecida teria proferido essas palavras? Estava diante de uma espécie diferente de mulher. Aquela mulher era livre!"

E quantas são, na realidade, mulheres livres?

São poucas , muito poucas, aquelas que não consideram a visão corrompida e perniciosa de uma sociedade que vê malícia em tudo que se faz.

Realmente , essas sim, são mulheres livres de sistemas e lógicas ilógicas ainda cultivados por muitos homens- e infelizmente, muitas mulheres também- que acham ações como a descrita acima "Absurdas, desonrosas e indignas de uma mulher que se respeite!"

Aos que possuem esse tipo de visão, não sinto raiva, rancor ou desprezo, sinto pena! Sim, pena. Pena por fazerem de si próprios seres tão pequenos que tornam-se ainda menores quando encontram-se ao lado de mulheres como Lou Salomé.

E olha, que a Lou Salomé é uma mulher do século XIX.

Imagine...

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Eu e meus botões

Certas vezes me impressiono com o tipo de parâmetro que costumeiramente se é usado para avaliar o nível de educação de uma pessoa, instituição e sociedade.

A aprovação em um curso de faculdade pública tem sido a principal fonte avaliativa do nível educacional que as escolas podem dispor, assim, se a escola tem um grande número de alunos aprovados nos vestibulares públicos e mais concorridos do país , ela é considerada de bom ensino.

Tudo bem, Bravo! Aprovar grande parte de seus alunos em vestibulares que excluem pessoas em grande potencial - já que estes mesmos não selecionam seus candidatos - é sim, sem dúvida, um bom feito.

Mas a questão é: Será isso suficiente para se medir o nível de educação das pessoas que ali estudam?

Naqueles dias que estamos para conversar com nossos botões e pensamos em coisas que diariamente abdicamos do nosso olhar , apenas por não estarem relacionadas diretamente a nós,eu então comigo mesma falo:

- Do que adianta estudar nas "melhores escolas", ser aprovado nos vestibulares públicos mais disputados, e depois jogar uma latinha de refrigerante no meio da rua??? Deus, do que adianta todo esse conhecimento teórico sobre a emissão de gases poluentes, o efeito estufa, a importância da preservação da natureza ( que, vale ressaltar, tem sido muitas vezes tema de redações de vários vestibulares) e tantos outros conhecimentos de extrema relevância para o homem e o mundo, se na prática de nada valem???


Infelizmente, aos meus olhos, parece que está havendo uma inversão de valores e conceitos fundamentais para isto que determina o progresso do ser humano: a educação.

Não é o dinheiro, a fama, o prestígio ou a cor da pele que é responsável pela verdadeira diferença entre nós, seres humanos, e sim ela, a boa e rara educação.

Um exemplo para esclarecer:

Todo ano, várias pessoas concluem o curso de medicina e teoricamente estão prontas para o mercado de trabalho e a vida. Mas como eu disse, é apenas teoricamente, porque na prática o que se vê são médicos recém-formados com elevada capacidade de se tornarem grandes profissionais mas que no entanto não dispõem do principal: mais uma vez, lá vem ela, a educação.

Tenho curiosidade em saber, como um médico poderá dizer que é um bom médico, se nem ao menos se importa com a pessoa que está tratando pois não a enxerga ( sim, porque muitos veêm, mas poucos enxergam) além da condição social e econômica aparentes?

O que dizer então desses profissionais? são médicos?
Não, certamente não são.Médicos de verdade, para quem realmente entende o que significa ser médico, não são.

(que aqueles que são ou serão médicos não me queiram mal,o que disse acima é apenas um estereótipo de profissionais que infelizmente não agem com a devida coerência que a sua profissão exige, e que fique claro que pessoas assim existem em todos os setores, afinal gente mal - educada,- cujo sentido da palavra aqui vai além de boas maneiras- não escolhe religião, etnia e muito menos profissão para desonrar todos aqueles que realmente são dignos do título que levam consigo)

Acho que a capacidade de reflexão da humanidade têm se esvaído gradativamente com a expansão de um mundo deslumbrado com aquilo que o dinheiro pode comprar.

Contudo, sei que tão imprescindível quanto saber História, Geografia, Línguas Portuguesa e Inglesa, Matemática, e todas as outras matérias que se apresentam como verdadeiros "dilemas" a serem decifrados na vida de muitos jovens estudantes, é saber também os problemas socioeconômicos que abrangem o país e o mundo em que se vive, para que assim se possa adquirir a consciência necessária de um ser capaz de viver em sociedade.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Prazer Mortal

Lá estava ele, refestelado numa macia cadeira de couro. Lia um livro filosófico. A fumaça de cigarro tomava conta da sala de estar. Sua esposa o fitava com negação. "Que exemplo estava ele proporcionando aos filhos?" - ela pensava.

Ele, ao sentir a presença da mulher, apressou-se dizendo: "É só porque estou estressado, tive um dia de cão hoje no trabalho". "Não há desculpas" -, disse ela. E iniciou-se a discussão. No fim, ele acabou cedendo aos pedidos dela, prometera que iria ao médico, no dia seguinte, a fim de verificar seu estado de saúde.

No caminho do consultório, relembrava-se da primeira vez em que pusera um cigarro em sua boca. Quão maravilhosa era aquela sensação! Um prazer instantâneo. O supra-sumo para os jovens de sua idade. Já se passaram 21 anos e o que fora diversão no início, tornava-se uma necessidade incontestável em sua vida.

Após algumas semanas, recebe um telefonema pedindo para que fosse buscar o resultado dos exames. Estava inquieto pois o médico lhe dissera que seu estado de saúde era preocupante. No entanto, tudo aquilo poderia ser um equívoco. "Claro que devo apresentar alguma irregularidade, mas nada grave.", pensava.

No consultório, recebeu um envelope branco. Poderia ou não ter uma doença. Estava tudo ali, escrito naquele papel. Com as mãos trêmulas, abriu-o. Lia-o cuidadosamente para não acrescentar ou retirar palavras inexistentes. Jurava para si e para Deus que largaria o vício, se tudo aquilo não passasse de um engano. Em instantes, lágrimas deslizam pelo seu rosto...

Tainá Lima
221- Adianópolis
( texto da vigésima primeira página do Livro de Redações do Lato Sensu)

Santo Deus!
Certas vezes me impressiono com a influência do tempo sobre certas coisas que escrevo.
Como se pode gostar no primeiro instante e detestá-lo pelos próximos segundos, minutos, dias, meses, e até anos?!
A solução é pensar que ainda há tempo para melhorar!
E ainda bem que há.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Contos Reais.

Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico... Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma: - Eu, hein?... nem morta!!!

É por essas e outras que eu gosto do Luís Fernando Veríssimo.;D

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