sábado, 8 de novembro de 2008

Ela

E então ela chegou em casa.
Tirou os pesados e sofisticados brincos de sua orelha pensando no que tinha acabado de viver.
Era uma sensação de incompreensão pura.
Estavam todos ao seu redor, felizes, alegres, satisfeitos, esfuziantes de paixão.E ela não entendia o porquê.
O motivo deles era banal aos olhos dela, se satisfaziam com álcool, cigarros e sexo.Nada mais importava a não ser aquele mundinho de crianças afoitas para se tornarem adultos. E este seria o caminho da maturidade, o da experiência própria, custasse o que custar.
Mas o que a intrigava não era o divertimento deles,afinal era natural, jovens pensam assim, agem assim, oras, são jovens, têm o direito de serem imaturos, pois é o que se espera.O que a deixava aflita enquanto já tirava os sapatos e massageava levemente os pés, era pensar que ela não compartilhava daquilo.Embora estivesse ali, no meio de todos,recebendo as boas-vindas daqueles que a saudavam sem nem mesmo a conhecer, se sentia só.
Ela sofria em seu íntimo o fardo de ter aprendido muito cedo - pelo menos em relação aos que a cercam - a pensar nos valores e princípios da vida, sofria por saber que a vida ia além daquilo que se julgava normal na juventude, sofria por saber que eles podiam ser melhores do que ''aventureiros juvenis'', eles podiam se aventurar no que a vida é, e não no que parece ser. Ela sabia do que era capaz.Ela sabia o que era, e não era aquilo ali.Era diferente. Era mais.
E esse era o âmago de suas aflições, pois embora ela soubesse da sua capacidade de ser humano que já se fizera notório e exceção aos olhos de todos -e por isso a admiravam-,ela não se sentia feliz como eles.Ela tinha tudo pra ser mais feliz também, mas não era.E esse era o preço que pagava por não estar no lugar onde deveria.Era o preço que ela pagava por não ser normal.
E foi por isso que antes de dormir naquela noite, falou baixinho que queria ser normal, era mais fácil ser feliz. A vida seria supérflua.
Porém já era tarde demais. Ela já estava além. Agora era só uma questão de tempo para encontrar seu espaço nesse mundo, ao lado daqueles que já não podem retroceder seus pensamentos porque suas mentes já não são mais as mesmas. Novos caminhos foram descobertos.
Ela estava viva, e nunca teve tanta vontade de viver. Ainda estava começando...
Apagou a luz e foi dormir, ávida pelo outro dia.
















Tainá Lima

2 comentários:

Unknown disse...

Estou pensando seriamente qual seriam as palavras para expressar minha admiração por um texto tão bem escrito e que mostra os sentimentos mas profundos de certas pessoas que conheço intimamente... infelizmente não as encontro minha amiga... a única coisa a dizer é PARABENS você tem um futuro brilhante pela frente e eu como fã e melhor amiga, torço para que ele seja ainda mas maravilhoso do que você sonhou!
Te amo
Beijos

Professor disse...

Novamente, aprenda com as árvores: a cada inverno, ressequidas e esquálidas, parecem definitivamente desprovidas de vida, mas a cada primavera desabrocham, e cada desabrochar é diferente, assombroso, espetacular, um milagre... e qual é a essência disso tudo? A raiz, invariável e invisível, que permite o espetáculo variável e visível das copas. A raiz, minha filha,... a raiz.
Beijos.

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